Autores*: Matheus Gonçalves Flores, Leandra Prates Diniz, Gabriella Yuka Shiomatsu, Vitor Yukio Ninomiya, Ricardo Tadeu de Carvalho.

Recentemente, um grupo de 239 cientistas de diversas nacionalidades publicou um alerta, pedindo para que as principais organizações de saúde pública mundiais reconhecessem a importância da transmissão aérea do novo coronavírus no contexto da pandemia.

Em resposta, a Organização Mundial de Saúde (OMS) admitiu, por meio de uma coletiva de imprensa, a possibilidade desse tipo de transmissão, com a ressalva de não ser ainda definitivamente comprovada. Essas afirmações podem gerar algumas dúvidas. Afinal, a OMS já recomendava o uso de máscaras (que servem para filtrar o ar), o que significa que a transmissão por este meio já era sugerida. De forma geral, isso só reforça a importância do uso de máscaras, mesmo caseiras. 

Quer saber mais sobre a transmissão do novo coronavírus? Entenda melhor, aqui, sobre esse novo alerta da OMS sobre a covid-19!

Quais são os meios de transmissão da covid-19?

Desde o início da pandemia, sabe-se que os meios mais relevantes na disseminação do coronavírus são:

  • transmissão direta, de pessoa para pessoa (beijos, abraços, apertos de mãos);
  • transmissão por meio de superfícies (corrimão, maçaneta, bancadas) ou objetos (toalhas, máquinas de cartão, moedas) contaminados por saliva ou catarro;
  • transmissão por gotículas eliminadas durante a tosse, espirro ou fala;

Esse último modo de transmissão, por gotículas, é um exemplo que utiliza o ar, mas não é considerado transmissão aérea. Nele, as partículas de saliva ou catarro eliminadas pelos indivíduos contaminados são relativamente grandes e “pesadas”. Então, ao serem expelidas, caem rapidamente no chão, chegando a distâncias máximas de aproximadamente 2 metros do local de onde foram liberadas.

Para este tipo de transmissão, o distanciamento físico é uma medida de prevenção muito eficiente. Afinal, as gotículas não conseguem viajar de uma pessoa a outra que estejam separadas por mais de dois metros de distância. Já para a transmissão aérea do covid-19, apenas o distanciamento pode não ser um bom meio de prevenção. 

Como acontece a transmissão aérea do novo coronavírus?

A transmissão aérea, assim como a por gotículas, ocorre pelo ar por meio de partículas eliminadas por indivíduos contaminados durante a fala. O que as diferencia é, principalmente, o tamanho. Aqui, elas são muito pequenas; conhecidas como aerossóis, quase “flutuam no ar”. Sim, são tão pequenas quanto os materiais que saem nos sprays por pressão, podendo viajar por longas distâncias de 15 metros ou mais. 

Além da distância, os aerossóis permanecem “flutuando” por períodos mais longos de tempo; chegando a até 14 minutos, segundo artigo americano recentemente publicado.

Ônibus é um dos locais fechados em que a transmissão do coronavírus pode ocorrer.

Essas condições fazem a transmissão aérea ser potencialmente muito perigosa em locais fechados, com pouca circulação de ar ou com sistemas de ar condicionado, que abriguem alguma aglomeração como, por exemplo: restaurantes, ônibus, trens, escritórios, cinemas, salas de aula… (a lista é longa).

Contudo, apesar de alguns estudos — como aquele que encontrou vírus ativos em gotículas e aerossóis — sugerirem a possibilidade real da transmissão aérea do novo coronavírus, nenhuma pesquisa conseguiu, até hoje, provar que esse tipo de transmissão tenha ocorrido de forma significativa.

Então, o que isso tudo significa na prática? Até que os cientistas cheguem a um acordo, não devemos considerar a transmissão aérea como algo comum. Mesmo assim, é importante não descuidar das medidas que evitam que o vírus chegue às nossas vias respiratórias, como as máscaras com tecido adequado com duas ou mais camadas, limitar o fluxo de pessoas em lugares fechados e utilizar a ventilação natural nos espaços fechados.

O que devemos fazer para prevenir a transmissão aérea? 

Para evitar a transmissão aérea, a principal medida é evitar aglomerações em espaços fechados com pouca ventilação (medida que já era recomendada antes mesmo desses novos estudos). Sempre que possível, quando a permanência em ambientes fechados for necessária, manter as portas e janelas abertas e ligar exaustores de ar, especialmente nas empresas.

Um fator importante no aumento da probabilidade de contágio pelos aerossóis é a quantidade de tempo que o indivíduo permanece no lugar fechado. Em ambientes como elevadores, onde a permanência é pequena, esse tipo de transmissão não foi demonstrada por nenhum estudo. Já em locais como restaurantes, ela já foi registrada algumas vezes.

Máscaras N95 para prevenção contra aerossóis.

Photo by CDC from Pexels

As máscaras cirúrgicas descartáveis ou de pano não protegem completamente contra os aerossóis quando a pessoa passa muito tempo em contato com eles, como acontece nos hospitais. Para isso, há máscaras específicas como, por exemplo, a N95. Esse é o motivo de falarmos para a população não comprar esses equipamentos de proteção, pois eles são essenciais para os médicos. Contudo, a OMS recomenda seu uso apenas por profissionais de saúde em ambiente de atuação. O uso generalizado pela população, além de acabar com as máscaras do mercado, não tem efeito comprovado na redução do contágio.

Em resumo, embora a transmissão aérea não seja tão relevante quando comparada aos outros meios de transmissão, ela é um mecanismo possível. Assim sendo, devemos continuar seguindo as instruções de prevenção e com atenção redobrada com locais fechados com pouca ventilação. 

Medidas de prevenção da transmissão aérea do novo coronavírus. 

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*Este post foi escrito pelos alunos da Faculdade de Medicina da UFMG pela parceria da SES-MG com o projeto Adote sua Vizinhança em Tempos de covid-19.

Este texto foi redigido conforme as evidências disponíveis até 29/07/2020.

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